— é mesmo por que?
— Por quê?! Esse é o meu horário.
— Não é porque você tem que ir agora. Porquê trabalhar?
— porque sim, por ser necessário, tenho família, é o meu dever, se eu não fizer isso nem sei…
— O que?
— Não sei, alguma coisa eu teria que fazer para gerar uma renda.
— Se não fosse sua família você não teria que ir trabalhar agora?
— Com ou sem família é essa remuneração que me mantém. Se eu fosse sozinho, sem família talvez teria outras opções na manga.
— Então você só faz isso por dinheiro?
— Sim, ninguém trabalha de graça.
— Então você não gosta do seu trabalho?
— Gosto o suficiente para fazer isso todos os dias pelo salário que me pagam.
— Porque você não faz outra coisa que te dê mais dinheiro? Já que é pelo salário você pode fazer qualquer outra coisa por dinheiro, sei lá, talvez vender sua dignidade?
— Não, isso nem tem valor de mercado.
— Sua dignidade não vale nada?
— Claro que vale alguma coisa, mas quem vai dar esse valor para uma coisa abstrata? Ou um sentimento? Qual o preço de se sentir feliz? Não dá para vender essas coisas como dignidade.
— Todo tem um preço, se vale alguma coisa dá pra comprar.
— Pra que me encher saco com essas perguntas óbvias, sendo que você sabe a resposta da maioria delas.
— Perguntas nunca são óbvias, talvez as respostas sejam, isso não significa que elas não precisam ser feitas.
— Tem perguntas que não devem ser feitas.
— Tem perguntas, que não devem ser feitas?
— Você acha que não?
— É óbvio que não, o mundo a sua volta existe da maneira que está porque alguém fez uma pergunta, uma pergunta burra, estúpida, inocente, óbvia, irritante, irrelevante e fácil, perguntas que nos trouxeram até aqui esse momento único na era da humanidade. Perguntas existem e pronto. Esse é o fato que nos diferencia dos outros animais. Perguntas profanas e absurdas que promoveram rupturas, boas e ruins, mortes e salvação, pecado e absorvição, corrigindo ou condenando, passado, futuro, pessoas e nações, o prazer da resposta é todo seu, minhas perguntas não são óbvias, você pode responder da maneira que quiser, o limite é todo seu.
— Tudo bem, ficou bem claro agora.
— As perguntas são libertadoras, elas são os cavaleiros da curiosidade, mensageiros da criatividade.
— Muito poético.
— Percebe que concordamos, então vou lhe repetir uma pergunta, vamos tentar recomeçar. Porque você trabalha tanto?
— Para você enfiar essa resposta toda no meio do seu Cú e parar de me encher o saco.
Assim cada um seguiu seu caminho.
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