quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Restrutura Neural 2


Parte 2 ......final......

Depois de lavar meu rosto o sono passou, consigo mover o meu corpo como se estivesse num pântano com barro até o pescoço, talvez seja o vinho que me deixou lento ou os meus neurônio, de repente vejo uma ideia descendo do teto do banheiro e entrando pelo ralo do chuveiro, é uma ideia antiga dessas que vem por acaso, típica ideia de banheiro, é o tipo de ideia fundamental que você não imagina da onde saiu, é a ideia que todos esperavam, a solução para o mundo; esse assunto específico. Não é do tipo óbvia, é uma ideia inesquecível que infelizmente fica no banheiro quando eu saio dele. A quanto tempo eu tenha perdido ela? 

— O que está acontecendo? Eu estou vendo ideias?

Daí a mesma ideia sai da pia e vem minha direção, depois desvia de mim e sobe para o infinito do teto e some, como se estivesse se escondendo.

Droga quando isso acontece… isso não é normal, eu to assustado, primeiro preciso descobrir se ainda estou dormindo, será que ainda estou dormindo?

Mesmo que tudo pareça real e meu corpo esteja se movimentando, devagar e sonolento, será que eu estou acordado?

Bem a resposta só pode estar naquela ideia, de onde ela veio? E para onde ela vai?

Do nada eu foi impulsionado a procurar essa ideia, peguei um banquinho levei para o banheiro e observei o forro, as frestas do forro de madeira do banheiro, não deu para ver muita coisa pois o banquinho era do tamanhos daqueles descanso de pé. Consegui ver alguma coisa, demorei para decifrar o que era mas quando consegui percebi que se tratava de um vilarejo, ou algo parecido, uma comunidade de ideias perdidas, desperdiçadas, vivendo tranquilamente bem ali.  

Tentei entender aquilo, racionalizar a situação, mas não obtive nenhum sucesso, desci do banquinho e comecei a pensar em uma estratégia para recuperar quem sabe aquele mundo de ideias que estão bem em cima do banheiro, mas estava difícil de fazer isso sem os meu neurônios.

Por isso eu peguei um Pé de cabra antigo e enferrujado que eu guardo atrás da porta de entrada (por segurança comprei uma vez mas nunca usei, quase joguei fora uma vez). 

Talvez o forro do banheiro não fosse tão resistente, uma paulada já bastaria.

O plano consiste em fazer escorrer essas ideias acumuladas no forro do banheiro atraindo assim os meus neurônios e assim eu capturo eles novamente, para que eu esteja sensível a esse retorno presciso de vinho.

A geladeira é um celeiro de antigas lembranças, lembranças associadas a comida, a geladeira concentra os mais valiosos mantimentos e de bom grado encontrei um copo esquecido nas gavetas das frutas com o vinho que desde não sei quando estava bem ali, considerei um presente do deus Geladeira, mantenedor de todos produtos industrializados. 

Com o pé de cabra na mão subi no banco e deu a porrada mais forte que pude, mesmo se mexendo lentamente.

 BooouummmmHH!!!!! 

Fez um rombo pequeno, o suficiente para escorrer aquela maravilha de ideias, todas esquecidas num banho ou em um simples escovar de dentes, bebi o copo todo do presente da geladeira, não estava ruim mas me deu a sensibilidade que eu precisava naquele momento.

Quando o eu neurônio aparece devorando todas aquelas ideia eu me joguei para dentro de mim em luta corporal, parecia uma batalha, uma mistura confusa de sentido, razão, sentimentos, mágoas e deveres, nada faz sentido nem mesmo o próprio nada, um garfo perfeito apareceu em minha frente acalmou a situação, ele era do tamanho de uma pessoa, era bem curvado, e sua prata refletia a confusão que estava em volta e dentro de mim, até que tudo congelou, nesse momento agradeci o deus geladeira pela segunda vez. 

Brotou dois olhos e uma boca naquele garfo, fez uma expressão de quem queria conversar comigo, a minha cabeça estava começando a doer, os meus neurônios estavam se desintegrando em volta de todo o banheiro no meio da cachoeira de ideias que escorria do forro, estava tudo paralisado, com uma fotografia, a única coisa que se mexia era eu e o simpático garfo reluzente.

— Oi   — disse o garfo
— Oi ... éé oi? Eu acho...
— Calma rapaz eu estou aqui para te ajudar — disse o garfo
— Você é um Anjo ?
— Não sou um garfo, por incrível que pareca sou fabricado no brasil.
— Se eu não estivesse te vendo não acreditaria que você é real.
— Concordo com você e digo o mesmo sobre você, talvez diria o mesmo para quase tudo. Porém agora eu preciso muito que você me escute, é do seu interesse.
— Sim não estou desacreditando.
— Nós podemos conversar em um lugar mais estável? Sabe uma conversa sincera de garfo pra...
— Que tal a cozinha?
— Ótimo ambiente familiar  —  disse o garfo flutuando em direção a cozinha, saindo do banheiro eu fiquei impressionado com a cena, estava tudo congelado, minha cabeça muito dolorida.
— Eu gostaria de saber o porque você esta fazendo isso? — disse o garfo
— Não sei... é isso o que?
— Isso de se separar dos seus neurônios, ninguém pode ficar longe deles, pensar sem eles cria em você alguns neurônios virtual, não tem ideia de como isso é perigoso ?
— Não. Não sei mesmo, só queria fugir.
— Deixa eu te explicar uma coisa primeiro, as pessoas, os seres humanos têm certas limitações, são condições para manter o organismo vivo, o sistema nervoso... é bem literalmente como o sentido da palavra sugere, ele é nervoso, só é possível pensar com seus neurônios, você não tem permissão para se separar deles, a cada segundo que você fica sem ele os neurônios virtuais tomam espaço de um neurônio verdadeiro, depois de um tempo seus neurônios fora de você acabam morrendo e você volta do Zero, como se você fosse um recém nascido.
— Como um garfo sabe tanto sobre o cérebro humano?, você é Jesus.
— Não ! sou um garfo, apenas isso e nada mais do que isso.
— O que eu devo fazer então ?
— Temos que voltar para o banheiro e eu vou recolocar os seus neurônios todos de volta no lugar.
— Não to falando disso, estou dizendo sobre o motivo que me levou a me separar de mim.
— Essa é a parte mais complicada, você tem alguns vários... “desvio de personalidade”, você acha que não deve ser igual a todos então contraria as opiniões para tentar ser diferente, como  se fosse uma referência, mas no fundo só esconde o seu verdadeiro “você”, por qualquer motivo, talvez por que você sabe o quanto fracassado é, um completo perdedor, patético.  então você acorda com uma âncora na cama, levanta e se lamenta por não ser o que você um dia quis ser, você nem mesmo lembra disso, ou esqueceu de propósito, por não lembrar sente falta de alguma coisa. Sabe você só pode entender o que eu estou falando quando você estiver completo, me siga até o banheiro — disse o garfo flutuando de volta até o banheiro, eu estava conformado com tudo o que ele disse, mas não senti o peso de nenhuma dessas palavras.
O garfo gigante e belo se posicionou flutuando em cima do vaso sanitário, eu fiquei de frente para ele.
— A sua cabeça vai doer mais do que já está doendo, assim que o tempo voltar você vai apagar, e eu vou reorganizar suas tabelas… digo os seus neurônios.
— Vai doer muito?
— Vai doer o suficiente, os garfos chamam isso de Ressaca.

Tudo voltou a girar novamente as ideias escorreram do teto meus neurônios se dividindo, o banheiro estava girando bem rápido, vi água e um monte de elefantes, quando apareceu os garfos, a minha cabeça começou a doer, senti um milhão de facas bem afiadas atravessando cada centímetro da minha cabeça, tudo doía, pensar doía, piscar, olhar, se mexer doía, até as lembranças desagradáveis se estamparem em forma de cinema no teto, crianças riam, a minha mãe está pedindo para eu pedir desculpa, até tudo apagar do nada.
Acordo lentamente no chão do banheiro, primeiro tentei abrir os olhos, assim que a luz entrou na mente senti o caminho que ela percorre pelo olho e como olho leva essa informação para o cérebro, uma sensação bonita se não fosse pela impressão que estivesse entrando dinamite explodindo nos olhos e no caminho que leva até o cérebro entender a imagem. 

Um grito de dor e fecho os olhos... abro de novo e outro grito... pensei em abrir o olho mas a dor era muita, pensei em lembrar da última imagem do banheiro, mas a cabeça doeu muito quando busquei da memória, então abri os olhos novamente e mantive aberto, até reconhecer o lugar. Desmaiei de tanta dor.
Não sei quantos minutos depois acordei com uma dor duas vezes maior, a diferença é que não piorava quando abria os olhos, entendi que estava no chão do banheiro deitado de lado, com o corpo dormente, o sol invadia a janela colorida e pequena do banheiro, devia ser domingo, tenho que recomeçar de novo.

Com ajuda do pé de cabra levantei me sentindo num formigueiro, não me reconheci no espelho.

“Pelo menos acho que esse deve ser eu” 

Do espelho vi o buraco do teto e nenhuma ideia no forro, na pia do banheiro habitava o copo vazio com o fundo roxo, saio do banheiro, o sol realmente está denunciando que é uma manhã de domingo, uma manhã geladinha, quase fresca, típica manhã de inventores, típico dia de preguiça largado numa enorme cama de casal, de passar o dia de pijama, para quem usa. 

A dor me impede de pensar, só consigo imaginar o meu quarto, podia sentir o vento solitário vagando pela chão do corredor que me levava direto para o quarto, sentia que esse domingo inspirava o mundo a ser um pouco melhor, sentia crianças acordando ansiosas para sair na rua e admirar o grande dia que terão para brincar num parque ou para ver seus pais, sem nenhuma preocupação em aproveitar o dia ensolarado, essa criança simplesmente curte com o que tem sem reclamar e se diverte com a grama do quintal da frente; senti também a estrada, o asfalto gelado olhando para o eterno azul do céu, me senti as férias da família simples que viajou para um sítio no interior, se perguntando como as pessoas vivem ali.
Até que cheguei na cama bagunçada, me enrolei num cobertor e curtir a dor passando aos poucos.

A vida às vezes parece estar distante do que imaginamos, a vida às vezes parece ser de outra pessoa, a realidade agride os sonhos, os planos e me tira da vida, que eu gostaria de levar, somente os heróis conseguem reverter a realidade transformando em comum a realização dos sonhos, os heróis mais corajosos.
Se aquele garfo estiver certo preciso para de ganhar dinheiro atendendo o telefone não posso ser totalmente ingrato foi essa merda que me sustentou ate aqui, mas acontece que nunca sonhei em passar meus dias ajudando as pessoas sem conhecê-las, só precisava de um tempo para lembrar qual era o meu sonho, sinto vontade de sair correndo por ai, qualquer lugar, mas para onde ?
Nenhum lugar, acho que meu sonho no momento é desligar o telefone e sair correndo, antes fechar a mão e quem sabe bater com bastante força no rosto daquela estúpido, sabe só para chocar as pessoas em volta de mim, depois sair correndo, correndo para um lugar onde eu ainda nunca fui, mas isso é o tipo de coisa que só um herói pode fazer, preciso me tornar um para melhorar o minha vida,  ser pelo menos por um dia um herói, e me salvar de mim mesmo, me libertar da minha mesmice, para de reclamar pode ser o primeiro passo. 

Me recuperar desse trauma psicológico, vou sentir saudades desse garfo, as vezes é difícil conter tanta coisa que eu tenho quando estou vazio…

Durmo sem querer com o friozinho matinal de um domingo magnificamente esplendoroso, só para heróis que mudam constantemente o rumo da sua vida (para melhor como sempre), a mim cabe dormir e sonhar no meu aparentemente insignificante mundinho.
No meu sonho me vejo em cima de um grande prédio, de cima do predio eu via uma praia (deveria ser um prédio construído próximo do mar) de repente senti uma vontade de voar, fiquei com vontade de sair com os braços abertos como uma águia, tinha plena consciência que eu  não era  uma águia, me aproximei borda do prédio, dei uma olhada para baixo e não consegui ver rua lá em algum lugar, era muito mais alto do que eu imaginava, era bem mais alto que um prédio poderia ser, me perguntei como era possível um prédio tão enorme, percebi que isso era uma auto-armadilha da minha mente tentando desviar o foco, eu tinha que sair voando, eu sabia que era possível, pois o prédio era perfeito, era gigantemente grande, a altura perfeita para pegar impulso e sobrevoar por aí, eu só não me lembrava para onde eu queria ir.

Nesse sonho eu tinha certeza que tinha todas as condições para ir para um lugar que eu me esquecera, pensei no sonho em fazer um treino, olhei para trás e percebi algumas caixas de madeiras, de cima delas dou alguns pulos, em um deles eu fiquei mais tempo no ar do que imaginei, comecei a ficar desconfiado que não voaria, que teria que descer os quase 300 andares do gigantesco prédio pelas escadas, mas esse lugar que eu não lembrava realmente onde era valia muito a pena ir até lá, resolvi fechar os olhos e me concentrar para começar a descer as escadas, antes de chegar perto da escadaria vejo um raio, na verdade era mais um reflexo do sol, poderia ser um avião, joguei fora essa possibilidade quando vi  o garfo parado na minha frente sobrevoando bem em cima de mim.

— Onde você vai ? — perguntou o garfo estacionando no terraço do prédio do meu lado
— Garfo gigante você novamente
— Sim, não acredito que você estava desistindo, você sempre quis voar
— Sei disso mas não estou voando, é impossível até mesmo dentro de um sonho.
— Eu te mostrei, te ensinei com se faz — disse o garfo me olhando dentro dos meus olhos.
— É — disse isso pois fique constrangido.
— Venha comigo até a beira — falou o garfo indo para a borda do prédio, que media uns 30 centímetros do chão do terraço
— Eu já treinei com essas caixas.
— Nunca vai conseguir treinando assim, você precisa tentar de verdade, pra valer — veio na cabeça uma ideia maluca que esse garfo estava querendo me matar, ele salvou minha vida uma vez e ele que me ensinará a voar por esses dias (ou noites, estamos sonhando).
— Eu sei, tenho receio de pular, queria chegar a algum lugar mas já me esqueci onde fica.
— Você precisa relaxar e se concentrar em tudo que te motiva a voar — falou  o garfo como uma professora da pré escola fala com os seus alunos quando eles borram em as linha do desenho.

Cheguei perto dele abri os olhos e os braços, ela me disse como é cruzar o oceano bem perto da água, abri os olhos olhei fixamente para o mar.

— Você pode! É só errar o chão que você vai voar longe, a propósito você queria ir para londres, nas aulas você só comentava que queria parar em cima do grande relógio o Big Ben na torre do Palácio de Westminster, depois voltar.

Então me concentrei totalmente no mar tomei distância dando alguns passos para trás, então corri o mais rápido que consegui e pulei gritando “errar o chão!!!” 

Fechei os olhos quando senti o vento no minha orelha abri os olhos e estava voando, olhei para a linha do horizonte e fui, cada vez mais rápido, quando olhei para trás a praia já tinha sumido já estava em alto mar, mais rápido, mais rápido.

Podia controlar minha velocidade fechando os braços a resistência do atrito era bem menos, assim comecei a avançar cada vez mais rápido, quanto mais rápido eu voava mais o mar parecia parado, resolvi dar um rasante mais próximo da água, a descida foi brusca, abri um pouco os braços para para diminuir a velocidade me estabilizei paralelo àgua meu nariz estava a uns 20 centímetros do nível do mar. 

Resolvi alcançar o maior velocidade que o meu corpo permitir, braços junto do corpo, como a posição de sentido de um soldado. A velocidade era tanto que olhar para frente já não era mais possível, minhas pálpebras não aguentam tanta pressão do vento, senti o sangue da cabeça descer para o meu pé, um frio dominou meu corpo, não queria saber de parar, por um descuido me aproximei da água e queimei a ponta do meu nariz num simples toque no tapete aguado, apesar de tudo não conseguia para, o vento soprava tão forte no corpo inteiro com se estivesse na frente de um ventilador gigante, resolvi tentar dar um mergulho com estilo, então pensei em fazer uma volta para trás como uma roda gigante e me jogar na água, a ideia parecia  muito boa, só que não consegui parar, meus braços não tinham forças para abrir e diminuir de velocidade, tentei o bastante, quando escuto um barulho estranho, como se fosse raios, joguei a cabeça para trás para ver mais a frente, o barulho era uma tempestade, estava me aproximando muito rápido da tempestade, naquela velocidade cada gota me cortaria como um lâmina importado do oriente, não conseguindo me mexer muito voltei a cabeça para olhar o mar, o barulho não parava, tomou conta daquela sensação, os raios trovejava no meio da tempestade, era tudo bem alto, e rápido, água, velocidade e lâminas em mim.

O relógio me desperta, estou mais uma vez ancorado na cama, com a mínima vontade de sair, de pensar ou de trabalhar. As vezes é mais fácil aceitar uma rotina ruim de um trabalho repetitivo do que procurar um outro, lembranças de um garfo lindo que  me diz alguma coisa, domingo passou bem rápido, nem reparei que já é mais um dia útil da semana onde pessoas injustiçadas reclamam por uma gota de justiça discando nos 0800, mais um dia inútil.

Tudo de novo outra vez. dessa vez sem medo de voar

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