segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Restrutura Neural 1


PARTE 1.

  Não gosto de Whisky, na verdade nunca tomei, se um dia experimentar, então, terei o que dizer dele, mas agora sem nenhuma informação digo que não gosto de beber esse líquido caro, essa é uma boa forma de aceitar que eu nunca provei algo que muita gente diz ser bom, assim eu me torno diferente, afirmar isso é mais para meu auto-orgulho do que para ser diferente. Me sinto bem melhor ao sair da loja, sei como tratar assuntos desconhecidos, na verdade, é o que faço de melhor, tenho que manter um estilo, mesmo que não seja o meu, é um estilo que eu gostaria de viver, não só de viver como o de se vestir, em tudo me dedico a esta lei, que eu mesmo criei às vezes tudo isso é tão automático que nem penso. Mas por dentro é tudo diferente, não sou o mesmo cara. Digamos que por dentro sou irreconhecível. Vai ser um fim de semana bem longo, preciso me reestruturar, às vezes sinto que a base está quebrando, nada como um bom final de semana isolado e interno para me recompor, preciso esquecer tudo. Principalmente que é um fim de semana com feriado, o feriado mais esperado do ano. Isso começa agora, tenho tudo que preciso, só basta atravessar a rua, e me isolar dentro de casa, talvez nem sair de dentro do quarto. É só uma rua para atravessar, talvez eu morra no caminho, pois há possibilidade de morrer. Quando começo a trabalhar com possibilidades significa que preciso mesmo, muito me organizar, toda essa rotina esta me fazendo muito mal, fico tão cheio que a cabeça só pensa em descansar, e quando eu descanso fico me sentindo mal por estar descansando. Atravessar a rua, esse é o primeiro passo, mais um pouco estarei no meu refúgio, to cansado de ser alguém que eu penso ser legal, ou estilizo, lá dentro se eu for sem estilo, serei eu mesmo. De porta trancada janelas abertas de cortina fechadas, silêncio da chegada, a pequena compra de suprimentos de emergência em cima da mesa. Abro a garrafa de vinho, um gole extremo, da abertura ao fim de semana, posso imaginar um estádio inteiro torcendo pelo fim de semana, por esse fim de semana, como se todo mundo quisesse ver ao meu fim de semana, é como o jogo imperdível, um torcedor grita "vai - lá uhhuu!". Todos estão esperando o grande gol da vitória do meu fim de semana isolado, sozinho, numa ilha, trancado, sem nem um animal de estimação, nada além de mim e qualquer objeto a minha volta que eu possa conversar… Garfos adoro os garfos, essa paixão começou depois de um desenho animado da Bela ea Fera, depois daquele musical eu entendi que o garfo é como as melhores mulheres do mundo, é um objeto perfeito, seu formato não retém os líquidos, e o macarrão fica ótimo enrolado num garfo. Os chineses ou os japoneses, não sabem o que é isso, não podem compreender, eles perdem muito tempo e coordenação motora comendo com dois palitos de madeira, isso é uma humilhação. O macarrão foi criado para o garfo, dois palitos de madeira nunca vão substituir o verdadeiro garfo. É uma ignorância quando você olha pela janela e vê que existem outros mundos lá fora, imagine outra pessoa como eu, que pode pensar e agir, não, eu nunca vou reproduzir como funciona o mundo lá fora, ou as misturas dos mundos, cada pessoa tem possibilidade de pensar de uma maneira diferente, eu nem me conheço direito, como posso imaginar um pensamento de uma outra pessoa qualquer? As possibilidades são imensa, tamanha, prefiro o meu mundo fechado e lacrado, assim nunca ninguém pode interferir, lá, além da janela estamos sempre tentando se adaptar a mundo mais forte de outras pessoas, ou assumindo um estilo de mundo comum, que seja aceitável. Droga, preciso parar de pensar logo e começar a reindexação do meu sistema, já estou quase surtando. Ainda bem que tenho esses meus pequenos objetos que me ajudam a relaxar, o clipes é um exemplo perfeito, se o Garfo casar com o Clipes, vai nascer um uma perfeição inimaginável, será o objeto mais belo e perfeito. Não posso me concentrar nisso se não eu me emociono e começo a chorar, se eu chorar vai ser o fim de semana inteiro. Não! Deito no Sofá, (um ponto importante é a qualidade dos objetos, pois somente um simples sofá não serve para reorganização e restruturamento de pensamentos, precisa ser suave leve), respiro fundo, deixo a garrafa quase vazia de vinho cair no chão, e durmo um sono profundo, Dormir é um dos requisitos, o mais estranho é que ninguém manda no seu sonho, você sonha e pronto, a não ser que esteja extremamente cansado, e estressado, daí a sua mente não tem controle do subconsciente, ou melhor, o subconsciente não tem controle, está tão cansada que fica tudo livre, solto, com a dose certa de concentração já dá para começar a reunião de neurônios, como se cada um deles fosse uma pessoa diferente, eles vão tomando vida própria, com o pequeno diferencial, cada um deles sabem exatamente o que todos estão pensando ao mesmo tempo. Eles conversam sobre vários assuntos, todos sabem sobre cada assunto que está rolando entre eles, nada escapa, nem uma pequena intenção de pensamento, Pensamentos, neurônios adoram pensamentos, eles se alimentam de pensamentos, não importa a origem nem mesmo a qualidade,de todos os tipos e tamanhos, os neurônios comem tudo, é extinto de sobrevivência. Traduzindo, imagine uma estação do metrô em horário de pico, como se fosse um formigueiro, agora imagine todas essas pessoas conversando alto, o mesmo assunto, a mesma fala, as mesmas perguntas, as mesmas respostas, eles se movimentam sem encostar um no outro, imagine uma piada, todo mundo rindo ao mesmo tempo da mesma maneira, é ruim quando começa a avalanche de piadas, isso acontece quando alguém lembra uma piada que faz lembrar outras e outras, que lembra o dia que você escutou um monte de piada. Uma avalanche de piadas estragaria todo o fim de semana, eu não posso falhar em concentrar todos os neurônios, eles adoram ficar soltos por aí, acham que podem fugir. Se nenhuma piada perdida acontecer vai dar tudo certo. A noite parece que só está começando, aparentemente estou deitado quase dormindo, com os neurônios concentrados, posso relaxar o corpo para cair num sono, todos os neurônios se reúnem, vão se fundindo, se misturando, vejo idéias entre eles e um pouco no chão, as melhores são para formar a cabeça do analista, é assim que os neurônios se acumulam se transformando num clone de mim mesmo, ou de como eu gostaria de ser, corpo formado por meus neurônios, estou pronto. Aparentemente meu outro eu parece mais saudável, pensando bem eu nunca me considerei saudável, talvez tenha que mudar de opinião, talvez mude muita a minha opinião, tem pessoas que lutam contra isso, parece que vai acabar o mundo se mudar de pensamento. — Oi meu eu de neurônios está tudo bem? pois você me parece muito bem! "Não!! claro que não, que afirmação mais falsa, quando que eu vou aprender? Quando que um dia eu vou olhar para mim mesmo e vou enxergar alguma coisa que seja digna de um bom pensamentos, bem não posso me julgar assim, afinal de contas eu sou um pensamento vivo, ou vários deles". — Essa com certeza é a minha pior versão. “Ei o que você… é... Eu… o que eu acho que eu sou para dizer isso de mim mesmo?” — Essa frase ficou muito estranha. Talvez eu mesmo, acho que isso não está funcionando, era para o meu eu de neurônios me ajudar "Tudo bem, porque você não procura um médico, um psicólogo para ser mais específico, ahh... deve ser porque o único que você confia te deu um fora".
— Dr. Erica, ela nunca me deu um fora, eu só não tive tempo de convida ela para sair, ou será que ela percebeu, que eu estava afim dela? "Isso está muito óbvio, você acha que ela vai querer sair com um paciente?". — Porque não, ela sabe tudo sobre mim, não vai ser alguém desconhecido que ele conheceu numa balada, tenho que assumir que foi a melhor estratégia que inventei para conquistar alguém. "A mais fracassada, você não lembra quando ela disse que deveríamos procurar um outro especialista, porque éramos amigo dela e isso atrapalhava no tratamento" — Isso não significa nada. "É, e porque você acha que ela queria ficar com um cara que mostrou todos os seus pontos fracos?" — Pontos fortes! "Ela disse que você era sem estilo e que deveria parar de se preocupar com o que os outros vão pensar ". — Cara você é chato. "Não é só você que não suporta você mesmo, o mundo inteiro não gosta de si mesmo". — Talvez por isso que estão desmatando a floresta amazônica. "Preciso comer". — Eu tento ter ideias o dia inteiro para você se alimentar e mesmo assim você nunca está satisfeito, deve ser uma solitária cerebral. Então meu clone some corredor a dentro. Ainda bêbado entrando na cozinha, me vejo preparando um lanche, é a primeira vez que vejo (me vejo) meus neurônios se alimentarem, por um instante me me sinto sozinho na cozinha observando um pedaço de pão, depois vejo de novo meus neurônios como se fosse meu irmão gêmeo ou um clone, Quando eu me viro para mim mesmo, dou um pulo em minha direção e digo: "É melhor você fazer alguma coisa!!!". Acordo assustado no tapete da sala, talvez eu tenha caído do sofá, tá tudo escuro, somente a luz da lua entra pela janela, parece uma noite eterna num deserto, ninguém além e do vento refrescante, que entra junto com lua pela janela. Parece tudo muito parado, isolado, estático. Pensativo? Não sei oque significa isso. Está todo parado, mais parado que o normal, tento me levantar do chão e tenho uma impressão que estou dormindo, sinto o corpo pesado e mole, não consigo controlar a minha mão, acho que estou dormindo. Com grande dificuldade em coordenar meu corpo levanto do chão e vou em direção do banheiro, no caminho eu sinto a falta de algo, como se ainda estivesse sem os meus neurônios. Talvez esteja mesmo sem eles. .... Continua... ..

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