terça-feira, 20 de março de 2018

Artista de rua

Ele entrou assustado, com um violão nas costas, ao ruído emitido antes das portas se fecharem ele puxou seu violão pela alça. Se equilibrou encostando numa das portas fechadas, aquela porta que só vai abrir na última estação.

Então começou a tocar uma canção confortável, com mensagens positivas, melodia triste, como um bom conselho que um velho entrega a um jovem recém chegado a vida adulta.

A canção soava melhor do que  o artista original a interpretava.

Mas o povo dentro do vagão continuava em vão não ouvindo sua canção, como um jovem recém chegado a vida adulta que despreza um conselho que um velho.

Lá fora a chuva começava a cair, de um bairro para outro o tempo mudou por completo, como se o trem estivesse entrado numa tempestade.

Enquanto músico seguia tocando seu violão, sem sucesso ao alçar os corações. Pessoas distraídas envoltas por suas próprias vidas dentro de dispositivos móveis.

Seguia tocando seus sentimentos, procurando por companhia, seguia teimoso sem desafinar sem errar nenhum acorde, seu chapéu seguia vazio.

Estendeu a música o quanto podia, pois logo a última estação viria. Então encerrou a bela canção com algumas palavras de agradecimento, apanhou o chapéu no chão e saio da vagão.

A maioria estava olhando a chuva, enquanto em mim ficou o eco da letra daquela canção, um presente, um momento que ninguém, ou bem poucos apreciaram.

Aquele cara segui por aí, como um fantasma a servir com músicas um público ingrato, sua parte estava feita.

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