Depois de um longo dia na beira do mar.
O mestre nos disse “preparem esse barco, vamos o outro lado do lago”.
O dia foi magnífico; ele tinha falado com a multidão o tempo todo, nos explicou sobre a história do semeador, que eu ainda estava digerindo e vimos diversos milagres acontecendo.
É uma linda tarde, o sol sumindo no horizonte, o céu escurecendo em tons coloridos, nenhuma nuvem, tudo perfeito para navegação, como quando pescavamos na madrugada.
Alguns outros barcos nos acompanharam, mas já estava escurecendo logo eles sumiram e ficamos sozinhos no mar, iluminados pelas estrelas. Se tudo ser certo chegaremos perto do amanhecer na outra margem do lago.
Ele está cansado, falou o dia inteiro debaixo do sol, as vezes me pergunto da onde ele tira tanta energia? Como ele pensa em tantas coisas? Como tem resposta para tudo?.
Me encostei numa posição confortável para tirar um cochilo, João está atento observando o mar.
— O que foi? — perguntei.
— Você está sentindo esse vento gelado?,
— Normal, estamos no mar, está de noite.
— Não sei, mas o vento está muito forte.
João acabou de dizer essas palavras, sentimos a noite ficar mais escura, olhamos para o céu é não vimos mais as constelações nem mesmo a lua. Em pouco tempo o vento começou a ficar mais gelado e o barco a balançar com solavancos cada vez mais fortes.
A escuridão era quase total, o barco começava a balançar mais forte.
— já estamos em alto mar, as ondas estão ficando forte.
— Pois é João tenho quase certeza que estamos entrando numa tempestade.
Acabando de dizer isso, escutamos um trovão forte estremecer as tábuas do barco, vários raios nos iluminaram como um flash numa foto no escuro (se soubéssemos o que um Flash).
Em pouco tempo a chuva começou a despencar do céu, as gotas batiam com tanta violência na pele que dava para ouvir o estalo.
Os raios eram constantes mesmo sem os trovões, era difícil trabalhar assim pois a cada raio ficávamos cegos por alguns segundos.
O barco chaqualha tanto que escutamos suas tabuas rangerem; um raio em especial iluminou uma parede de água vindo em nossa direção, assustado me joguei no chão e sentimos o tapa de água, como se tivessem atravessando uma cachoeira. Depois disso ficou difícil ficar deitado com o rosto no chão, tinha uma piscina no convés, foi quando eu me senti mais leve, um outro raio iluminou, vi João agarrado no mastro como se tivesse voando, quando olhei para proa e vi o oceano lá embaixo a uns 10 ou 5 metros, mais uns raios iluminaram por um instante a enorme onda em que o nosso pequeno barco estava, bem no topo dela, a descida for tão desconfortável que me deu cólicas, por alguns momentos pensei ter saído do barco, porque não consegui me agarrar em nada.
Cai de costa na chão, vi alguém em vão tirando a água do convés gritando alguma coisa, o som da tempestade no mar era assustador, pelo balançar do barco sabíamos que a qualquer momento as tábuas poderia se romper em vários pedaços.
Quando vi a figura de um homem deitado dormindo com a cabeça numa almofada improvisada, dormia um sono pesado, estava todo molhado. Pensei “como consegue dormir com esse barulho?”.
Então decidi que iria acordá lo, se outra onda gigante daquela bater na gente esse barco quebra, então estaremos à deriva no mar.
Caminhar era impossível, muitas ondas pequenas se chocavam nas laterais do barco, muitos objetos boiando no convés me derrubavam toda vez que tentei ficar de pé.
Escutei um ruído de madeira quebrando, no meio de todos os barulhos reconheci voz de João gritando de desespero, eu nunca tinha presenciado o mar tão agitado dessa forma, não dentro de um barco, dentro da tempestade, nunca tinha ouvido homens clamarem por suas vidas.
Fui engatinhando como uma criança, até ele, me agarrei em seu corpo até o barco votar da sua inclinação, outro solavanco e mais água no convés, agora estava no meio da canela, fiquei tão assustado, nunca estive num naufrágio.
Temendo pela morte gritei o mais alto e forte que pude, balancei-o até que ele acordasse.
Ele se levantou assustado, gritou.
— O que foi?
Na quela altura da tempestade minha resposta foi uma indignação com sua pergunta
— Como assim “o que foi?”. Estamos afundando! Vamos todos morrer! Você está dormindo e nem se importa com agente!
Depois de dizer isso um raio trouxe um clarão, vi seus olhos inchados de sono, ele balançava a cabeça em forma de reprovação.
Então levantou seus braços, deu as costas pra mim, mesmo com o barco balançando ele ficou em pé sem apoio.
Apesar dos ruídos da tempestade, nossos gritos de desespero, e os trovões. A sua voz soou nitidamente.
— Mar ! Tempestade! Raios! Trovões!, Parem agora! Fiquem quietos!
No mesmo o instante o barco ficou imóvel como se estivesse ancorado em terra firme. As estrelas começaram a surgir uma a uma, por fim a lua, iluminando o mar até o horizonte, a tempestade e as ondas desapareceram quase que instantaneamente, nem mesmo o vento era visível na pequena bandeira ponta do mastro.
— Que absurdo a fé de vocês, é quase nula! Vocês pensaram que iam morrer? Homens de pequena fé.
Ele ainda pegou sua almofada encharcada, espremeu um pouco depois arrumou, deitou na mesma posição, e logo voltou a dormir.
Nunca tinha visto o mar tão calmo, parado, sem nem uma brisa.
Era uma noite muito agradável, ficamos tirando a água do convés, não conseguimos dormir espantado com esse homem, que até às forças mais brutais da natureza o obedece.
Um comentário:
Meus olhos estão marejados (desculpe o trocadilho). Mas que bela descrição!! Parabéns meu filho
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