Num vagão qualquer apertado, expremido, sacolejando, para onde quer que se olhe só se vê pele de braços erguidos, se apoiando no teto ou em algum corrimão.
O ar já respirado passa uma sensação de falta de ar. O ar-condicionado se esforça ao máximo para evitar o improvável calor de 32°C.
Dentro do vagão 25°C ou 26°C. Pessoas transpiram umas nas outras, o contato é desumano, involuntário, nessessario.
Lá dentro por entre pele e braços, sobra um pequeno pedaço de janela em seu campo de visão. Nesse pequeno pedacinho de visão do mundo externo ele pode observar o bairro passando, prédios, carros, pessoas, vidas em movimento.
Um prédio num terreno mais elevado lhe chama a atenção, o prédio está lá sozinho destacado pela sua posição, talvez de 20 ou 15 andares. Uma janela em especial ele fixa o olhar.
Será que tem alguém ali?
Será que ele sabe que eu estou justamente olhando para ela?
Se ela estiver olhando pra mim, serei somente um pequeno detalhe em sua rica paisagem, mas se essa pessoa olhar pra mim e me ver ? Além de um vagão num trem lotado, num pedacinho de janela entre uma multidão de braços.
O que será que ela está pensando de mim?
Será que estou violando sua privacidade?
Quantas pessoas estão olhando essa mesma janela nesse momento?
Talvez só estão vendo um prédio num lugar alto.
Ninguém sabe o que está acontecendo lá ?.
Um crime ou uma história de amor?
Um ninho de baratas, ou alguma dor?
Dentro da janela num prédio passando e eu sou só uma pessoa num vagão lotado.
3 comentários:
Poucos são os que se atêem a pequenos detalhes.
Detalhes estes que se tornam grandes quando expostos de forma especial de uma crônica.
Sampa sempre inspira aqueles que tem percepções.Você é um deles. Parabéns. Belo texto.
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